Roma.
Um relatório com cerca de 300 páginas sobre o escândalo de vazamento de
informações do Vaticano, batizado de Vatileaks, foi um dos motivos para
a renúncia do papa Bento XVI, segundo o jornal italiano "La
Reppublica".
O
papa Bento XVI, que vai renunciar no próximo dia 28, teria encomendado
um relatório que revelou escândalos na cúpula da Igreja FOTO: REUTERSDe
acordo com o impresso, em uma reportagem assinada pela jornalista
Concita di Gregorio, o relatório que foi encomendado por Bento XVI a
três cardeais no ano ado - o espanhol Julián Herranz, o eslovaco
Jozef Tomko e o italiano Salvatore De Giorgi - revela um sistema de
"chantagens" internas baseado em fraquezas sexuais e ambições pessoais.
O
trabalho foi feito após vazamentos de documentos confidenciais em um
escândalo que ficou conhecido como Vatileaks. O texto de 300 páginas que
se refere a um "lobby gay" dentro do Vaticano, foi entregue em dezembro
ao pontífice, segundo a jornalista que não esclarece como teve o
ao documento. O relatório secreto teria informações de fontes de dentro e
de fora da Cúria.
Vaticano"Fantasias,
invenções, opiniões", assegurou o porta-voz do Vaticano, o padre
Federico Lombardi, após advertir que não comentaria a reportagem. Com o
título "Não fornicarás, nem roubarás, os mandamentos violados no informe
que sacudiram o Papa", o jornal sustenta que o ancião cardeal espanhol
Herranz, do Opus Dei, ilustrou ao Papa no dia 9 de outubro do ano
ado os "assuntos mais escabrosos" do relatório, em particular a
existência de uma "rede transversal unida pela orientação sexual".
Segundo
o jornal, o relatório será entregue ao próximo papa, alguém que deverá
ser mais "jovem, forte e santo para dar conta do trabalho que o espera".
O
jornal italiano remete ainda a um escândalo ocorrido em 2010, quando um
assessor de Bento XVI foi afastado por causa de um escândalo sexual
envolvendo prostituição. Ângelo Balducci, um dos Cavalheiros de Sua
Santidade, uma espécie de assistente de elite para o papa, foi flagrado
pela polícia dando instruções a um interlocutor sobre detalhes físicos
de homens que gostaria que fossem levados a ele. Segundo a imprensa
italiana, o interlocutor era Thomas Ehiem, 29, integrante do coral do
Vaticano, também afastado.
ConclaveUm
cardeal da Indonésia desistiu de participar do conclave que elegerá o
próximo papa. A informação foi dada ontem pela agência de notícias
AsiaNews, que é vinculada ao Vaticano.
De acordo com a agência, o
cardeal Julius Darmaatjadja, 78, bispo emérito de Jacarta, está com
problemas de visão e optou por não participar.
Com isso, cai a
116 o número de cardeais aptos a votar. O conclave ainda não possui data
exata para acontecer, mas deve começar após 10 de março. Bento XVI
renuncia no próximo dia 28.
Escolha não será por idade e origemAparecida do Norte
O cardeal arcebispo de Aparecida do Norte, dom Raymundo Damasceno de
Assis, de 76 anos, que embarca para o Vaticano no próximo domingo para
participar do conclave que escolherá o novo papa, entende que a origem e
a idade do escolhido não importam. Diz que procura afastar do
pensamento a ideia de que pode ser votado e eleito.
Dom Raymundo diz que os europeus estão preparados para um papa de fora do continente FOTO: DIVULGAÇÃOO
presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) é um dos
cinco brasileiros que vão decidir o nome do líder máximo da Igreja
Católica em março.
Ele observa que a escolha de um Papa de origem
latino-americana ou africana é possível e que os católicos do mundo,
sobretudo os europeus, estão preparados para um Papa de fora do
continente. "Para nós católicos, o Papa é o Papa, independe da origem",
disse, reforçando, no entanto, que a escolha deve ter como critério
principal o perfil pastoral do cardeal.
Dom Raymundo asseverou
que vai basear sua escolha em um líder aberto ao diálogo e com uma
experiência pastoral que lhe credencie para o posto. Para ele, a idade
do candidato só deve pesar negativamente se o cardeal visivelmente não
demonstrar mais vigor físico.
No total, 116 cardeais terão
direito a voto (por terem menos de 80 anos) no conclave, que elegerá,
dentro da Capela Sistina, o novo papa com uma maioria de dois terços.
Além
de Dom Raymundo, os demais brasileiros concorrentes e votantes são o
arcebispo emérito de São Paulo, Dom Claudio Hummes, de 78 anos, Dom João
Braz de Aviz, de 65, o arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Pedro Scherer,
de 63, e o arcebispo de Salvador e o ex-presidente da CNBB, Dom Geraldo
Majella Agnelo, de 79 anos.
O arcebispo cumpre os últimos
compromissos da Arquidiocese de Aparecida antes de seguir para Roma.
Além de reuniões e de celebrar uma missa, ele será submetido a exames de
rotina na capital paulista.
Bispo português acusado de abusoLisboa
Em meio às expectativas para o conclave que, no próximo mês, no
Vaticano, irá eleger o novo papa, a Igreja Católica em Portugal enfrenta
denúncias de escândalo sexual. A última edição da revista semanal Visão
publicou reportagem sobre o ex-bispo auxiliar de Lisboa e atual
delegado do Conselho Pontifício da Cultura, Carlos Azevedo, que estaria
sendo investigado pela Nunciatura Apostólica por suposto assédio sexual a
membros da Igreja na década de 1980.
Segundo a revista, a
denúncia foi feita em 2010 ao núncio apostólico de Portugal que acolheu
relatos de um padre (a suposta vítima). O sacerdote é de uma paróquia
fora da região metropolitana de Lisboa.
Dom Carlos Azevedo nega o
assédio sexual e afirma que "nunca" foi chamado a depor por qualquer
processo nem foi repreendido pela alta hierarquia da Igreja. Ele disse a
um canal de televisão que "remexer em assuntos de 30 anos não serve de
modo ético à informação, mas visa meramente sensacionalismo".
O
religioso ite que conheceu o padre já adulto e que manteve contato
pontual. "Foi só um acompanhamento (no Seminário do Porto)", disse. "De
maneira nenhuma tive qualquer relação com essa pessoa. Não há atitude de
assédio para com ninguém nem nunca ninguém teve qualquer reparo nesse
sentido comigo". O ex-bispo de Lisboa itiu que esteve com o
denunciante depois de 2010 na cidade de Fátima, porém não relatou os
"pormenores" da conversa.
Ao saber da publicação da reportagem da
revista Visão, o porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, padre
Manuel Morujão, divulgou nota de solidariedade ao ex-bispo de Lisboa
publicada na agência de notícias Ecclesia (da Igreja Católica). "Dom
Carlos Azevedo pode contar com a nossa solicitude e a nossa oração
fraterna".
JulgamentoA nota destaca que
estão em jogo "acusações de comportamentos impróprios, não conforme com a
dignidade e a responsabilidade do estado sacerdotal" e salienta para
riscos de premeditação contra supostos atos ocorridos há 30 anos. "Da
sua veracidade não podemos nem devemos julgar apressadamente. De
qualquer membro da Igreja se espera um comportamento exemplar", escreve o
padre Manuel Morujão na nota.